FIM NO COMEÇO – INÍCIO 
                NO FIM
              
              Deus é Deus. 
                O Todo é o que é. É começo? É 
                fim? Nunca o mesmo, para nós. Berço infindo a desdobrar-se 
                no espaço e no tempo, com dimensões de infinito 
                nas alturas do firmamento, nos horizontes do mundo e nas profundezas 
                do mar. Deus é energia inesgotável, amor e criatividade, 
                desdobrando-se em tudo o que habita céu e terra. Razão 
                porque uma gota de água suga, de si, os oceanos; e uma 
                partícula de pó cósmico tira, de si, terra 
                com vales e montanhas. O que nada parece, carrega em si o todo. 
                Razão porque há fim em começa e início 
                em fim.
              Razão também 
                porque uma célula viva suga, de si, plantas, pássaros, 
                peixes e animais. Razão porque a conjugação 
                de óvulo e espermatozóide origem do ser humano, 
                se faz portador de trilhões de células. Razão 
                porque, de um simples pensamento, o arquiteto extrai imponência 
                de uma obra delineado no papel, o cientista transforma um projeto 
                em benefício para milhões de pessoas e um místico 
                cativa tantos para galgarem os degraus de santidade. Em nós, 
                o começo é um fim e este, de novo, se torna um início 
                que desliza em um fim muito fecundo. 
              “Não 
                estou certo de que eu exista. Eu sou todos os escritores que li, 
                todas as pessoas que conheci, sou todas as mulheres que amei, 
                sou todas as cidades que visitei, sou todos os meus ancestrais”. 
                (J. L.Borges) Bem observou uma amiga minha, jovem mãe, 
                mostrando o nenê em seu colo :”Frei, esta maravilha, 
                eu suguei de Deus”. Ah! Se soubéssemos da riqueza 
                que trazemos em nosso íntimo, ligados a tantos e tantas 
                que são a razão do que, hoje, nós somos e 
                fazemos. Ah! Se soubéssemos a riqueza de que somos portadores 
                a poder beneficiar pessoas mil.
              Sim, pertencemos 
                ao céu e à terra, à nossa família 
                e à humanidade. A obra da Criação levou milhões, 
                trilhões de anos para que nós pudéssemos 
                viver neste planeta, graças a uma conspiração 
                entre Deus, a evolução da natureza e o suceder de 
                milênios da história da humanidade. Quem sabe, Deus 
                não chega nem vai. Ele está presente, sempre, em 
                tudo e em todos. Nunca houve um fim que deixou de transformar-se 
                em um novo começo e este teve de desprender-se de si. Fazemos 
                parte de uma imensa corrente que brota de Deus e para ele retorna 
                enriquecida. 
              Em Deus, movemo-nos 
                entre um interminável vir– r–vir. Não 
                há fim nem começo. O que há é Deus 
                em seu mistério incompreensível e admirável 
                tornar-se o que é, graças à sua Criação. 
                Feliz quem se dispõe a degustá-lo, sabendo-se aconchegado 
                em uma infinita ternura, como um nenê se aninha no colo 
                de sua mãe. Não faz sentido preocupar-se com o fim 
                da vida, da história, com uma eventual volta de Cristo 
                – refém de um tempo e de um espaço particulares 
                -. Viver bem é testemunhar a presença amorosa de 
                Deus e multiplicá-lo em seu viver.
                 
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              Frei Cláudio